Featured Slider

Namíbia, não, Aldry Nascimento


Considerada uma peça de ficção futurística, o livro aborda, dentro dos limites de uma situação dramática, um microuniverso distópico que simboliza um dos futuros possíveis para as contradições sociais contemporâneas. Com uma mistura de gêneros discursivos, o enredo traz referências extraídas do nosso cotidiano social e acaba deslocando o pensamento do leitor para o estímulo de sensações ligadas às questões sociais do Brasil.

Namíbia, não!
Aldri Anunciação
Ano: 2015
Páginas: 163
Idioma: português
Editora: EDUFBA

André e Antônio, primos que dividem um apartamento no Rio de Janeiro, um é advogado e o outro é estudante de Direito, são surpreendidos com uma medida provisória do governo brasileiro que, prevendo reparação social por conta do período escravagista da nossa história, determina que todas as pessoas de 'melanina acentuada' deverão ser devolvidas ao seu país de origem. 

Estranho? Absurdo? As pessoas que não tem 'melanina acentuada' encaram essa determinação quase como um presente. Afinal, se os seus ancestrais foram retirados à força de África e trazidos para o Brasil, retornar às suas origens deveria ser o que qualquer um gostaria. 

Vivenciada pelos primos que discutem a situação enquanto estão trancados no apartamento, onde acreditam estar seguros, já que invasão de domicílio é crime, mesmo que pela polícia, e de onde assistem o caos que a cidade se tornou por conta da recusa das pessoas de largarem tudo o que construiram aqui, seus bens materiais e sua própria história para irem para um local desconhecido, André e Antônio alternam opiniões entre aceitar a ida, afinal eles realmente têm origem africana, e lutar pelo direito de permanecerem aqui, até porque, depois de tanto tempo, quais laços poderiam ter restanto com África? Como seria mais um recomeço?

Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi que a história, mesmo falando da realidade de pessoas negras, não trouxe a visão de pessoas da periferia ou da favela. Nossos personagens principais são de, no mínimo, classe média, moram bem, tiveram acesso à educação de qualidade. E ver a história sendo vivida por eles mostra que o racismo é uma questão de cor da pele, que não perdoa classe social nem nível cultural ou intelectual. 

O texto também mostra a necessidade de conhecermos nossas origens, sabermos de onde viemos para sabermos quem somos e levanta a discussão do colorismo, que rejeita o preto retinto mas aceita o 'moreninho claro' com poucas características físicas que o associem ao povo negro.

Em forma de texto teatral e com um toque de distopia, Aldri Nascimento nos brinda com um texto curto que é inversamente proporcional ao tempo que as reflexões despertadas por ele permanecerão em sua cabeça. Aldri fala de racismo com uma certa leveza graças ao seu tom quase humorístico
 

Para o Lobo, Hannah Whitten


Destinada a se sacrificar pelo reino, Red enfrentará os perigos de uma floresta mágica para proteger aqueles que ama e descobrirá verdades perigosas por trás das lendas de seu povo. Primeiro volume da duologia Wilderwood, "Para o Lobo" é uma fantasia dark que combina elementos de contos de fadas em uma narrativa envolvente e repleta de personagens inesquecíveis.
O reino de Valleyda não via o nascimento de uma Segunda Filha há cem anos – até a Rainha dar à luz Redarys, ou Red, irmã mais nova de Neverah. Seu propósito de vida é um só: o sacrifício.

Ao completar vinte anos, Red se entregará ao temido Lobo em Wilderwood – a floresta que faz fronteira com seu lar –, para cumprir o pacto selado há quatro séculos e garantir a segurança não só de Valleyda, mas também de todos os demais reinos.

Carregando o fardo de um poder que não consegue controlar, Red sempre soube de seu destino e está quase aliviada por cumpri-lo: na floresta, ela não pode machucar aqueles que ama.

No entanto, apesar do que dizem as lendas, o Lobo é apenas um homem, não um monstro. E os poderes de Red são um chamado, não uma maldição. Enquanto descobre a verdade por trás dos mitos, a Segunda Filha precisará aprender a controlar sua magia antes que as sombras tomem conta de seu mundo.

Para o Lobo
Wilderwood #1
Ano: 2022 
Páginas: 392
Idioma: português
Editora: Suma

 “Para aqueles que reprimem a raiva tão fundo que ela é incapaz de sair, para os que se sentem afiados demais para tocar em algo delicado, para aqueles que estão cansados de carregar mundos nas costas.”

Se existe uma coisa que agrada essa leitora aqui são releituras, e Para o Lobo é praticamente uma releitura de A bela e a Fera com Chaupeuzinho Vermelho. 

A cerca de 100 anos não nascia uma Segunda Filha em Valleyda, mas justo a rainha dá a luz a gêmeas. E, por conta de um acordo antigo em troca de proteção da floresta de Wilderwood e de seus monstros, ao completar 20 anos, Red deverá ser entregue para o Lobo que guarda a floresta mas que ninguém conhece.

“Pessoas com poder se ressentem ao perdê-lo e ter muito poder por tempo demais pode transformar qualquer um em vilão.”

Apesar de não querer ser um sacrifício e, possivelmente, ter um destino sombrio, Red está resignada com o seu compromisso. E, quem sabe, lá ela consiga respostas para esse poder estranho que ela sente e parece estar conectado com a floresta. Mas Neve, sua irmã, não está confortável com essa situação, e vai fazer qualquer coisa pra mudar o destino da irmã. 

" Lobos e florestas, tronos e escuridão, mundos inteiros presos em corações quase completamente humanos. Você e sua irmã são parte de tudo isso desde o início, atoladas muito mais fundo do que qualquer uma das duas imaginou. "

Já deu para perceber inúmeros elementos dos contos de fadas, né? E a Hannah Whitten vai trazer muitos mais e também vai entrelaçá-los à mitologia de Wilderwood com maestria fazendo com que você veja os contos de fadas com um ar renovado por causa de uma vibe mais sombria. 

“Todos eles amavam como fogo, sem pensar nas cinzas.”

Sim, temos gatilho. Algumas cenas de automutilação que fazem parte de rituais de sangue para evocar magia podem ser bastante desconfortáveis. Mas o grande foco da narrativa é na relação entre as irmãs. e aqui vai uma curiosidade: esse amor que deveria ser capaz de grandes atos é justamente o que vai provocar as piores tragédias da história, e isso não é um spoiler porque garanto que você não está preparado para o que está por vir. Vamos acrecentar à narrativa uma boa dose de segredos a serem descobertos e teremos uma história boa. Sim, boa. Acho que a autora se perde em vários momentos tornando a leitura, por vezes, monótona, apesar de ser capaz de, no capítulo seguinte, dar um novo respiro à narrativa e despertar novamente a curiosidade do leitor. 

Se você gosta de fantasia, de contos de fadas, de personagens fortes e de mulheres no comando, não deixe de ler Para o Lobo. 


Tress, A Garota do Mar Esmeralda, Brandon Sanderson


Primeiro, é o seguinte: você precisa compreender que essa é uma história sobre pessoas que são tanto o que parecem ser quanto o que não parecem ser. Simultaneamente. Uma história de contradições. Em outras palavras, é uma história sobre seres humanos.
Em Tress, a garota do Mar Esmeralda, Brandon Sanderson, autor best-seller nº 1 do New York Times, expande o universo Cosmere de O caminho dos reis e da saga Mistborn com uma nova história singular, que é, também, uma excelente introdução à sua magnífica obra.

A única vida que Tress conhecia na ilha onde nasceu, em meio a um oceano verde esmeralda, era simples, com prazeres mundanos como colecionar copos trazidos por marinheiros de terras distantes e ouvir as histórias contadas por seu amigo Charlie.

Porém, quando o pai de Charlie o leva em uma viagem para encontrar uma noiva e um desastre acontece, Tress precisa se esconder em um navio e procurar a Feiticeira do mortal Mar da Meia-Noite.

Sobre as águas sombrias, repletas de esporos e piratas, será que Tress vai conseguir deixar sua vida simples para trás e conquistar seu espaço num oceano em que uma única gota pode significar a própria morte?

Tress, A Garota do Mar Esmeralda
Uma História Cosmere
Projeto Secreto #1
Ano: 2023
Páginas: 440
Idioma: português
Editora: Trama

 “No meio do oceano, havia uma garota que vivia em uma rocha. Esse não era um oceano como aquele que você deve ter imaginado. Nem a rocha é como a que você imaginou.

A garota, contudo, pode ser como você a imaginou, contanto que a tenha imaginado como imaginativa de fala mansa e interessada em colecionar copos."


Sim, eu confesso; ME APAIXONEI PELA ESCRITA DO BRANDON SANDERSON!!!!

Tress é uma menina encantadora que vive em uma ilha que mais parece uma rocha, que coleciona copos, tem uma vida bem simples, trabalha lavando janelas para ajudar os pais e é apaixonada pelo seu melhor amigo Charlie, que acredita que Tress não saiba que ele é filho do rei.

" Uma das grandes tragédias da vida é saber quantas pessoas no mundo foram feitas para voar, pintar, cantar ou conduzir - só que elas nunca têm a chance de descobrir isso. "

Na busca do rei por um noiva para ele, mesmo contra a sua vontade, Charlie é capturado por uma poderosa feiticeira que vive em um lugar sombrio e cheio de perigosos de onde ninguém volta. Temendo mais vidas perdidas, o rei desiste de resgatar o filho e Tress é a única que tem coragem suficiente para abandonar tudo o que ela conhece e enfrentar o desconhecido para trazer de volta o seu amor. 

" Memórias têm um jeito de mudar. Azedando ou adoçando com o tempo."

Se você está achando que Tress é um fantasia cheia de romance e só, você falhou miseravelmente. Tress, A Garota do Mar Esmeralda é o primeiro livro do Projeto Secreto formado por quatro histórias independentes e que vai te levar a universo diferente de tudo o que você já leu. Na verdade, a narativa conta a aventura de Tress enfrentando perigos e vivendo experiências que ela nunca imaginou a bordo do Canto do Corvo e em companhia de sua tripulação de piratas da morte, que vão moldar a grande heroína que ela se tornará. 

“Uma verdade tediosa sempre terá dificuldade em competir com uma mentira empolgante.”

Hoid, personagem presente em outros livros do Sanderson, narra a história como um velho amigo, com tiradas divertidas e inteligentes nos apresentando a dragões raivosos, ratinhos falantes, alta tecnologia, personagens muito bem construídos e três mares que não deveriam ser chamados assim por conta de suas particularidades.


“Aprecie as memórias, sim, mas não seja escravo de quem você desejou ter sido algum dia.”

Seria apenas um conto de fadas moderno se não tivesse sido escrito pelo cara que transforma tudo em épico. Os livros do Sanderson são grandiosos, a sua escrita está sempre combinada a ilustrações magníficas e a uma qualidade gráfica que já transforma o livro em um clássico. 

Se esse é o seu primeiro contato com a escrita do autor, vá devagar, assimilar tudo o que ele tem a dizer requer uma dedicação que será altamente recompensada assim que você se familiarizar a seu universo. E se prepare, é viciante!

Além da magia, Tahereh Mafi


Há apenas três coisas importantes para Alice Alexis Queensmeadow, de 12 anos: sua mãe, que não sentiria sua falta; magia e cor, os quais parem escapar dela; e seu pai, que sempre a amou. No dia em que seu pai desapareceu de Ferenwood, ele levava consigo apenas uma régua. Já se passaram quase três anos e Alice está determinada a encontrá-lo. Ela o ama tanto quanto ama aventura, e está prestes a embarcar em um para encontrar o outro.No entanto, trazer seu pai para casa não será tão fácil. Alice precisa viajar através da mística e perigosa Terra de Furthermore; onde para baixo pode ser para cima, papel está vivo e esquerda pode ser direita. Sua única companhia é um garoto chamado Oliver, cuja habilidade mágica é mentir e enganar – e com um mentiroso em uma terra onde nada é o que parece ser, requisitará de Alice toda sua concentração para encontrar seu pai e conseguir voltar para casa sã e salva. Em sua jornada, Alice precisa se encontrar- e se agarrar à magia do amor diante da perda.

Além da Magia
Ano: 2017 
Páginas: 368
Idioma: português



Ferenwood é uma terra cheia de cores, onde realmente tudo, inclusive as pessoas, são muito coloridas. E cheia de magia pois os seus habitantes a recolhem de tudo o que a terra possa oferecer. Mas Alice Alexis Quensmeadow é diferente, ela nasceu sem cor. E, aparentemente, sem magia. Daí você já pode imaginar como Alice é vista com extranheza em sua comunidade.

"Já era ruim o suficiente ter nascido quase sem cor nenhuma, ter uma pele cor de neve e cabelos cor de açúcar e cílios cor de leite. Alice nunca gostou de admitir, mas a verdade era suficientemente verdadeira: segundo os padrões de Ferenwood, ela era mesmo a mais feiosa. Aquele mundo onde ela vivia prosperava com as cores, e ela não tinha nenhuma."

Alice mora com a mãe e os três irmãos. Seu pai, a única pessoa que sempre lhe demonstrou amor, saiu de casa a três anos e ainda não voltou. Todas as suas esperanças estão voltadas para o dia da Entrega, quando ela receberá o seu desafio e poderá provar que é capaz, mesmo com uma autoestima lá no pé alimentada pela indiferença da mãe e por acreditar que não tem nenhum talento. Alice recebe um envelope preto, diferente do de todas as outras crianças, decide não abrir e aceita a proposta de Oliver para ajudá-lo a completar o seu desafio e encontrar seu pai.

“Por que você precisa se parecer com o restante de nós? Por que tem de mudar? Nós que mudemos o nosso jeito de ver. Não mude o seu jeito de ser. Você é uma artista – Ele sorriu. – Pode pintar o mundo com as cores que tem dentro de você.”

Ambos partem para Futhermore, um lugar estranho que beira ao absurdo, com perigos inimagináveis com animais feitos de papel, dormir, sonhar e comer pode ser extremamente perigoso e alguns seres se alimentam, literalmente, de magia. Apesar da amizade improvável entre Alice e Oliver, ele será imprescindível no amadurecimento dela.

“O riso era um bálsamo que tornava mais leves até os momentos mais difíceis.”

A narrativa é um deleite, o narrador conversa diretamente com o leitor antecipando ou alertando para coisas que nem os personagens sabem ainda, parecendo que é um velho amigo lhe contando uma história. E isso torna a leitura quase uma boa fofoca.

Acompanhar o crescimento de Alice é tão bom quanto viver a magia desse lugar. Alice vai perceber que elá é incrível, vai aprender a reconhecer o seu talento e a força que ele tem, vai descobrir que o amor pode se manifestar de inúmeras formas e, mesmo quando ele não se manifesta, não significa que ele não exista e, acima de tudo, que uma amizade verdadeira é capaz de coisas que nem a magia pode explicar.

“Conforme fiquei mais velho, acabei me acomodando. Era mais difícil pensar de formas diferentes e passei a precisar de mais tempo para entender as coisas. O medo me atrapalhou. Fiquei tenso demais, cauteloso demais. E foi então que comecei a cometer muitos erros.”

Sabe quando você precisa de algo pra levantar o seu astral nos momentos em que você, assim com Alice, não acredita nem em você mesmo? Leia Além da magia. Essa é uma história que mostra que, por mais absurdo que o mundo possa parecer, tem sempre uma forma de você se encontrar nele. e que ser diferente pode ser o fator que vai lhe manter vivo.

“Alice sabia que ser diferente sempre seria difícil; sabia que não existia magia capaz de abrir a mente fechada das pessoas ou acabar com as injustiças da vida. Mas também começava a entender que a vida nunca era vivida em termos absolutos. As pessoas a amariam e a desprezariam; elas mostrariam tanto gentileza quanto preconceito. A verdade era que Alice sempre seria diferente – mas ser diferente era ser extraordinário, e ser extraordinário era uma grandíssima de uma aventura. Como o mundo a via, isso não tinha importância. O que importava era como Alice se via.”

Eita que já surgiu o meu primeiro favorito de 2024!!! E não poderia ser diferente. Além da magia conta uma história linda que, vai muito além da magia, foi escrito pela minha musa Tahereh Mafi e foi leitura escolhida por minha irmã para o nosso projeto #bookcartas.

Indivisível, Marília Marz


Indivisível é o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Marília Marz realizado em 2017. O quadrinho explora a cultura negra e oriental presentes no bairro da Liberdade, em São Paulo, mostrando como o antigo bairro de escravos do século XIX coexiste com o atual bairro oriental da cidade de São Paulo.
Dividido em duas narrativas opostas associadas às cultura negra e oriental - principalmente a japonesa -, a obra busca contribuir para o entendimento do processo de construção da identidade do bairro.

Indivisível esteve entre os cinco vencedores do concurso de publicações Des.Gráfica 2018, organizado pelo MIS (Museu da Imagem e Som) em São Paulo.

Indivisível
Marília Marz
Ano: 2019
Páginas: 60
Idioma: português
Editora: Conrad

E quem disse que quadrinho não pode falar de coisas sérias? Se você pansava assim, precisa ler Indivisível, HQ da Marília Marz (será que ela é parente do Bruno ou do Jason Marz????), que surgiu como o resultado do TCC da autora na área de Arquitetura. Apaixonada pelo bairro da Liberdade em SP, Marília foi buscar o entendimento sobre esse lugar que tanto a fascinava e, realmente se supreendeu. 

Durante suas perquisas, Marília se deparou com uma história que foi apagada graças a imigração japonesa estimulada pelo governo brasileiro: a dos negros que ali se concentraram muito antes. Você sabia disso?

Claro que a HQ fala de arquitetura e urbanismo, afinal foi por isso que ela nasceu. E o leitor vai poder 'caminhar' pelas ruas da Liberdade como em um verdadeiro tuor apreciando igrejas católicas que coexistem com a cultura nipônica, vai entender a origem trágica do nome do bairro através da história do soldado negro Chaguinhas. Mas também vai enxergar o lugar pelos olhos de um jovem amarelo que vai caminhar oelas ruas do bairro tentando entender as mudanças ocorridas. 

Indívisível é uma tentativa de (re)unir essas duas histórias, mostrando as semelhanças entre elas e a maneira como elas se ligam. Pra que o leitor realmente entenda essa ligação entre a histórias desses dois povos, o quadrinho traz duas histórias que são, literalmente, indivisíveis. Ele traz duas capas e você pode começar a leitura por qualquer uma delas. Afinal, mesmo que o começo possa ser diferente, o final é o mesmo para as duas histórias.